quinta-feira, 16 de julho de 2009

A política econômica brasileira e a crise financeira: uma reflexão

A política econômica brasileira e a crise financeira: uma reflexão
Publicação em 16/10/08; Tribuna Impressa de Araraquara; Nº 3608, p. 04.

O sistema econômico brasileiro possui condições de suportar a crise? Esta é uma indagação que perturba a sociedade. Também é uma valiosa oportunidade para colocar em xeque as atuais medidas econômicas que possam sustentar tal cenário. É um prato cheio para a turma do contra, pois dada à falta de conhecimento da sociedade em relação aos mecanismos que regem um sistema econômico, tais lobos vestidos de cordeiros tentam insistentemente induzir a sociedade a um contexto econômico e político que não condiz com a verdade. De maneira imparcial, sem condicionar opiniões baseadas em conveniências partidárias e pensando no bem comum, este artigo tem a finalidade de esclarecer - e não induzir - a sociedade quanto à posição do Brasil frente à crise.
Quando analisarmos um modelo econômico, seria razoável estabelecermos uma comparação com o modelo passado. Somente assim poderemos mensurar o nível de evolução do sistema. Pensar em como deveria ser é importante, mas insuficiente para tecermos análises críticas. Vamos imaginar uma crise dessa magnitude há 10 ou 15 anos atrás. Com aquela forte dependência que tínhamos em relação aos EUA, será que os impactos não seriam devastadores? Vamos imaginar a dívida externa de 10 anos atrás quando representava uma quantia, em dólares, que extrapolava a razão do equilíbrio financeiro nos mantendo reféns do FMI. Não tenho dúvidas que estaríamos em uma situação muito mais complexa do que a atual. Não havia reservas em dólares suficientes para ajustar um cenário reprimido pela crise financeira. O que havia era obrigação financeira – dívida em dólares. Com o câmbio de hoje, como seria?
É certo que não podemos fechar os olhos diante do atual momento econômico. De fato há uma crise financeira mundial e como toda crise em tempos globalizados, não há duvidas quanto aos reflexos às demais nações do globo. O que devemos entender é o nível desse reflexo para as nações. Países emergentes como o Brasil, graças a uma política pé-no-chão eficiente e eficaz, sofrerão impactos, porém, reduzidos. Temos reservas cambiais suficientes para remediar, quando necessário, o sistema financeiro nacional. Diminuímos o grau de dependência em relação aos EUA, pois não somos mais reféns do famigerado FMI e abrimos linhas de comércio com outros mercados o que nos garantiu um maior equilíbrio nos fluxos comerciais e financeiros. Temos crédito disponível no mercado, mas em um nível que ainda não compromete o sistema financeiro. O crédito é importante para a liquidez do sistema, mas crédito fácil e sem limite pode gerar o que chamamos de efeito riqueza. A atual crise financeira possui como origem a crise do crédito imobiliário dos EUA. Nesse ponto, o Brasil caminha bem. Estamos crescendo pouco, mas estamos crescendo economicamente, enquanto o resto do mundo desenvolvido (EUA e Europa) decresce. Mesmo em tempos de crise, estamos mantendo os principais programas de investimentos, como àqueles vinculados ao PAC. Não há dúvida que alguns investimentos serão postergados. Ainda assim, entendo como normal, pois o mundo caminha nesse sentido de retração. Voltando a lembrar da dívida externa, quanta retaliação sofreu o governo por sanar aquele pesadelo financeiro. Muitos oportunistas induziram a opinião pública com as seguintes colocações – “o Brasil está passando fome, nossa infraestrutura logística está um caos, o setor energético precisa ser repensado e o governo prefere sanar a dívida”. Vocês sabem que as obrigações inerentes ao pagamento de juros dessa mesma dívida, junto ao FMI, por si só, representam um fator limitador para qualquer investimento planejado? E a dependência em relação aos EUA? Que bom que não temos mais aquele volume de dívida e hoje temos até reservas cambiais para abastecer o mercado. Vamos imaginar o Brasil de ontem nos tempos de hoje. Não tenho dúvidas que os impactos seriam devastadores.
Vamos voltar há 10 ou 15 anos atrás e fazer uma comparação. Agora, vamos perguntar a nós mesmos – qual a razão de nos encontrarmos mais imunes aos reflexos da crise financeira mundial?
Precisamos refletir e conhecer um pouco mais sobre os mecanismos políticos e econômicos para que possamos julgar a partir de nossa própria consciência.
Fernando Bueno, professor de administração e economia, mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Centro Universitário de Araraquara, consultor. E-mail: prof.fernandobueno@isbt.com.br

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Neoliberalismo: um convite à reflexão!

Neoliberalismo: um convite à reflexão!
Fernando Bueno[1]
Publicação: Jornal Tribuna Impressa – Araraquara
Em 12/11/08 – Ano 12, nº3631, P. 04

Toda tormenta configura-se como uma ótima oportunidade para reflexões. Pobre homem, que precisa se afundar em seu próprio mar de lama para pensar sobre os efeitos de suas ações. Poderia ser diferente, não é? Será que existe nesse tal sistema neoliberal um pouco de inteligência? Ou o problema não seria exatamente do sistema e sim do homem que comanda o mesmo? Os economistas clássicos defendiam uma postura liberal indicando que o próprio mercado atingiria seu equilíbrio apostando em uma igualdade social e econômica. A natureza humana que alimentaria um processo de produção, movido pelos fatores terra, capital e trabalho, regularia o sistema econômico trazendo benefícios à sociedade. Caros leitores, a economia evoluiu assim como os mecanismos de ajuste de mercado. O homem também evoluiu em suas ações. Precisamos entender se a evolução do homem-econômico foi benéfica ou não para o atual cenário mercadológico.
O pensamento liberal do século XVIII alimentou o neoliberalismo de hoje. Trata-se de uma postura globalizada em que se defende a não intervenção do Estado nas economias de mercado. A crise mundial provocada pela equivocada articulação dos fluxos financeiros ocorreu devido às posturas neoliberais. Deixe o mercado agir, pois ele sabe o que é bom para a sociedade, não é? Será que o homem capitalista pensa nos efeitos de suas ações para com a sociedade?
A responsabilidade socioeconômica do pensamento neoliberal deve ser questionada. Não sou eu quem aponta isso e sim a crise financeira mundial. Deixar um sistema financeiro por conta de decisões unilaterais do mercado dominante é um risco enorme. No século XVIII o sistema econômico tinha outro formato, mas evoluiu assim como os mecanismos de controle devem evoluir também.
Na reunião do G-20, vários aspectos relacionados à intervenção do Estado no sistema financeiro estão sendo discutidos, sobretudo, pelos emergentes (inclui-se o Brasil). Mas não devemos nos iludir, ainda existem enormes barreiras neoliberais diante de posturas mais reguladoras. Convido os leitores para uma reflexão: a crise não é uma prova da incompetência planejada do mercado em gerir seu próprio ambiente de negócios – postura neoliberal? Portanto, não seria um contra-senso dizer que posturas “mercadistas” configuram-se como a salvação do sistema financeiro mundial?
Todo esse problema foi gerado pela falta de controle e fiscalização dos Estados. O mercado, ao contrário do que diziam os economistas clássicos, não tem a capacidade (responsabilidade socioeconômica) de conduzir um sistema com dimensões igualitárias. A busca por competitividade e maior participação de mercado, condiciona o homem capitalista a maximizar as diferenças e aumentar as desigualdades. Penso que poderia ser diferente, mas não é.
Diante desse contexto, entendo que o mercado é falho, mas necessário para a articulação dos ciclos econômicos (produção/renda/consumo...). No entanto, são nessas lacunas falhas do mercado que o Estado deve intervir. Deve haver uma atuação complementar (mútua) entre Estado e mercado. Não há como o Estado se manter a distância diante das ações neoliberais. É fato que o mundo está sentindo os resultados da falta de regulamentação.

[1] Professor de economia e administração; mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente; e-mail: prof.fernandobueno@isbt.com.br